segunda-feira, 4 de julho de 2005

Arquitetando paisagens


Atitudes e procedimentos para conhecer na pré-escola
Lilian Cristina A. T. de Aguiar, Espedita Alexandra L. Mesquita, Ivone de A. Vivas, Elisabeth da Silva, Lúcia C. Fernandes, Jaqueline da C. Cardoso e Maria Inês B. Netto

Entendendo que a construção do conhecimento pelo aluno ocorre a partir de sua ação sobre o objeto de estudo (Vygotsky, 2000), desenvolvemos atividades que propiciaram novas leituras de lugares já familiares aos alunos de cinco-seis anos da educação infantil – o quarteirão onde fica a escola, a escola e a casa deles.

Um princípio de nossa postura pedagógica expressa-se pelo trabalho com as atitudes e os procedimentos necessários às ações de estudo do objeto, tanto da professora como dos alunos. Tais ações foram orientadas muitas vezes pelas crianças e em outras havia a marca da função social da professora. Outro princípio consiste no que Paulo Freire chamou de pedagogia da pergunta (Freire e Faundez, 1985): atenção à fala e/ou pergunta da criança e transformá-la num problema a ser trabalhado e estudado, desencadeando ações na busca da resposta.

Professoras e crianças deram uma volta no quarteirão da escola a fim de observá-lo e registrar na prancheta suas observações – pesquisa de campo. As crianças sentavam-se no meio-fio para escrever e desenhar; copiaram o que viram escrito, mas viram também uma escrita que não podiam ler e copiar (pichação).

Um aluno perguntou ao guarda de trânsito o que estava escrito em sua camisa e pediu-lhe que ficasse parado enquanto copiava a palavra.

Foi interessante ver alunos tão pequenos em atitude de estudo. Uma senhora perguntou a um deles o que estavam fazendo fora da escola: “Estamos fazendo pesquisa!”.

Na roda de conversa, a ação de cada criança foi a de fazer a leitura de suas anotações na prancheta e ditaram um relatório para a professora e, posteriormente, um texto coletivo foi elaborado.

Propusemos a elaboração da planta da sala, a sua representação em desenho visto de cima, “como se estivesse num balão”, na expressão de uma criança. A observação de um menino expressa o seu processo de significação do novo conhecimento ao enunciar que “planta é a construção vista somente o chão”.

O que nos levou a discutir nas turmas a respeito do planejamento no processo de organização e ocupação do espaço pelas pessoas. Assim, refletimos sobre o trabalho de arquiteto, urbanista e paisagista, por meio das histórias de vida e da obra de Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx, com material da internet e de jornais.

Então, um quarteirão fictício e o da escola, o condomínio em construção, a casinha da boneca foram lugares escolhidos pelas turmas para representar bi e tridimensionalmente. Em planejando a maquete, levamos os alunos a analisar a forma que a planta deveria ter e seus outros elementos, buscando as relações entre o que estavam desenhando e o espaço planejado.

Com a maquete pronta e a respectiva planta as crianças fizeram a leitura da maquete, estabelecendo relações entre elas. São ilustrações dessa leitura:
A maquete não ficou toda igual porque a gente não olhou na planta.”
A gente não olhou a planta, vamos fazer tudo de novo com paciência porque não somos arquitetos, ainda temos que estudar muitíssimo.”

Bibliografia
FREIRE, P. e FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
VYGOTSKY, L. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Artigo publicado no jornal da Editora DP&A, baseado no projeto de trabalho “Arquitetando paisagens”, realizado no 1o. semestre de 2003 na pré-escola onde as autoras trabalham.

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