segunda-feira, 4 de julho de 2005

Diálogo e Educação


por Adriana Santos da Mata
(parceira no EntreTextos)
(continuação)

Para a educação dialógica acontecer de fato, deve-se ter respeito ao saber popular e, em decorrência disso, ao contexto cultural local. Este é o ponto de partida para o conhecimento que os educandos vão criando do mundo. A localidade “é a primeira e inevitável face do mundo mesmo”. Não se pode desprezar o que alunos, sejam crianças ou jovens e adultos, “trazem consigo de compreensão do mundo, nas mais variadas dimensões de sua prática na prática social de que fazem parte. Sua fala, sua forma de contar, de calcular, seus saberes em torno do chamado outro mundo, sua religiosidade, seus saberes em torno da saúde, do corpo, da sexualidade, da vida, da morte, da força dos santos, dos conjuros.” (Freire, 1993, p. 85-6)

Daí decorre que a ação educativa dialógica deve se dar a partir da leitura de mundo dos educandos. O diálogo da educação como prática de liberdade é inaugurado no momento em que se realiza a investigação do universo temático do povo ou o conjunto de seus temas geradores. A partir da situação presente, existencial, concreta, que reflete o conjunto de aspirações do povo, é que se deve organizar o conteúdo programático da educação ou da ação política”. (Freire, 1988)

O respeito à leitura de mundo do educando revela que o (a) educador (a), com o aluno e não sobre ele, busca a superação de uma maneira mais ingênua por outra mais crítica de compreender o mundo. “No fundo, o educador que respeita a leitura do mundo do educando, reconhece a historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade, desta forma, recusando a arrogância cientificista, assume a humildade crítica, própria da posição verdadeiramente científica”. (Freire, 2002, p. 138-9)
Deste modo, para que a dialogicidade comece, o educador-educando tem que se perguntar que conteúdos vai trabalhar, em se torno do que vai dialogar com os educandos-educadores na situação pedagógica. De acordo com o autor:
Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositados nos educandos –, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada”. (Freire, 1988, p. 83-4)

Nesta perspectiva, a formação dos professores e das professoras tem que considerar este saber necessário, e que tem importância inegável sobre nós, do contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. Juntar o saber teórico ao saber prático da realidade concreta em que os (as) educadores (as) trabalham. As condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. Cabe aos (às) professores (as) abrirem-se à realidade desses alunos com quem partilham sua atividade pedagógica a fim de que se tornem, no mínimo, menos estranhos e distantes dela. (Freire, 2002)

É preciso ter claro que “o (a) professor (a) só ensina, em termos verdadeiros, na medida em que conhece o conteúdo que ensina, quer dizer, na medida em que se apropria dele, em que o apreende ... Ensinar é assim a forma que toma o ato de conhecimento que o (a) professor (a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos seu ato de conhecimento também. Por isso, ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico. A curiosidade do (a) professor (a) e dos alunos, em ação, se encontra na base do ensinar-aprender”. (Freire, 1993, p. 81)
A ação educativa dialógica se dá na relação com e entre os homens, através de sua ação sobre o mundo, na criação do domínio da cultura e da história. Os homens são seres da praxis. “Praxis que, sendo reflexão e ação verdadeiramente transformadora da realidade, é fonte de conhecimento reflexivo e criação.” (Freire, 1988, p. 92) Somente os sujeitos que se abrem ao mundo e aos outros são capazes de estabelecer uma relação dialógica que se confirma como inquietude e curiosidade, um processo contínuo e inacabado, em permanente movimento na História. (Freire, 2002)

BIBLIOGRAFIA
Centro Paulo Freire [on-line]. Disponível na Internet via www. URL http://www.paulofreire.org.br Em 26/05/05.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988 . _____________. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993 .
_____________ . Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. (Coleção Leitura).

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