segunda-feira, 4 de julho de 2005

Diálogo e Educação


Em Paulo Freire


por Adriana Santos da Mata
(parceira no EntreTextos)

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
(Paulo Freire)


Um dos eixos fundamentais do pensamento de Paulo Freire no que concerne à educação para a liberdade e a transformação da sociedade é o diálogo. No diálogo, há um encontro dos homens e uma mediação do mundo, por meio da qual, os homens podem “pronunciá-lo”. É pelo diálogo que os homens transformam o mundo e ganham significação enquanto homens.
O autor contrapõe à concepção da prática “bancária” da educação, que é antidialógica por essência, na qual o educador “deposita” no educando o conteúdo programático, elaborado por ele mesmo ou por outros, a prática problematizadora, dialógica, cujo conteúdo jamais é “depositado”, e sim organizado e constituído na visão de mundo dos educandos, onde se encontram seus temas geradores. Enquanto a ação antidialógica se caracteriza pela conquista, divisão, manipulação, invasão cultural, e a elite dominadora promove uma mitificação da realidade para manter a dominação; na teoria dialógica da ação, cujos aspectos são a co-laboração, união, organização e síntese cultural, os sujeitos dialógicos se voltam sobre a realidade mediatizadora que os desafia a fim de desvelar o mundo, desmitificá-lo, e assim transformá-lo. (Freire, 1988) O objetivo da ação cultural dialógica não supõe o desaparecimento da dialeticidade permanência-mudança, visto que implicaria o desaparecimento da estrutura social e dos próprios homens, mas a superação das contradições antagônicas de que resulte a libertação dos homens. (idem)
A ação dialógica só se efetiva a partir de quatro atitudes importantíssimas por parte do educador ou da educadora: saber escutar o que os educandos têm a dizer, o que sentem, o que desejam, o que esperam, o que pensam; respeitar as diferenças culturais, geográficas, econômicas, sociais, religiosas; partir da leitura de mundo dos educandos, dos conhecimentos que trazem, do “saber de experiência feito”, e, depois de tudo isso, escolher, com os educandos, conteúdos e métodos de ensino que contemplem as suas necessidades e favoreçam uma educação crítica e libertadora.Saber escutar implica, para Paulo Freire, a disponibilidade permanente do “sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro”. Ele diz que, escutando bem, o sujeito pode se preparar melhor para se situar do ponto de vista das idéias. Além disso, é escutando que o (a) educador (a) aprende a falar com os educandos. “O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele.” (Freire, 2002, p. 127-8; 135)
Não se trata, portanto, de uma imposição de cima para baixo de “verdades” que os educadores, pretensamente, acreditem que podem transmitir aos demais. Os (as) professores (as) devem investigar o pensar do povo com o povo, sujeito de seu pensar. E constatando que o “se seu pensar é mágico ou ingênuo, será pensando o seu pensar, na ação, que ele mesmo se superará. E a superação não se faz no ato de consumir idéias, mas no de produzi-las e de transformá-las na ação e na comunicação”. (Freire, 1988, p. 101)
O autor assinala que uma das virtudes essenciais de quem sabe escutar é aceitar e respeitar as diferenças. Ele diz:“Se discrimino o menino ou a menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto superior ao diferente, não me importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é outro a merecer respeito, é um isto ou aquilo, destratável ou desprezível”. (Freire, 2002, p. 136)

(continua)

Nenhum comentário: